sábado, 13 de outubro de 2012

PEDAGOGIA LIBERTÁRIA: CONCEITO DE EDUCAÇÃO LIVRE, SEM CASTIGO NEM OBRIGAÇÃO.


O livre pensador e pedagogo catalão FRANCISCO FERRER foi fuzilado, em Barcelona, no DIA 13 DE OUTUBRO DE 1909, devido a intolerância religiosa.

Participava de um movimento de Pedagogos e Professores, que acreditavam na liberdade e na ciencia a serviço do progresso humano e não discriminavam as crianças, nem por sexo, n
em por condição social.
Leia abaixo o texto do Neno Vasco, sobre esse assassinato do livre-pensador


Um Grande Erro de Justiça Solenemente Proclamado


Lisboa, 26 de Janeiro
Quando após os sucessos de Barcelona, em Junho de 1909, circulou pelo mundo a notícia da prisão de Francisco Ferrer, como implicado principal na insurreição popular, os que o conheciam, os que lhe seguiam atentamente a obra educativa, os que sabiam o escopo da sua atividade, a diretriz do seu pensamento e as virtualidades do seu caracter refletido, os que não o ignoravam quase sempre ausente de Espanha, pessoalmente pouco conhecido e sem influência entre o proletariado barcelonês (um membro do comitê de greve nem de vista o conhecia), os que enfim tinham presente, em todos os pormenores, o anterior processo, cujo infame pretexto fora o ato de Moral, esses não puderam deixar de exclamar, confiados e otimistas.
- Não é possível! É mais um fiasco, que a “justiça” terá em breve de reconhecer.
O conhecimento minucioso dos fatos veio depois amplamente confirmar esta convicção - e aumentar o espanto suscitado pela incrível teimosia dos inimigos da sua paciente e ponderada propaganda, que recusavam soltar a presa. E o assombro foi embrutecedor, inenarrável quando o infame tribunal de guerra, sem provas,, contra todas as normas de justiça, fechando os ouvidos à razão, sufocando a defesa, ousou pronunciar uma sentença de morte! - Embora! - dizia-se ainda; - não ousarão ir até ao fim, o crime não será inteiramente consumado! Impossível! Arma-se uma comédia obscena para fazer brilhar a piedade régia...
E foi provavelmente esta idéia que entorpeceu, que contribuiu para entibiar a campanha internacional em favor do preso, em favor da justiça, em favor da vida. A multidão revoltou-se, colérica e impetuosa - mas quando o mal era irreparável...
Mesmo os que conhecem o valor e a natureza das instituições autoritárias, de exploração e de domínio, se deixam por vezes levar a bem singulares candura!
E no entanto, após a tremenda indignação universal, após a ardente ampanha de reivindicação e de justiça, eis que essas mesmas instituições, eis que uma das suas cúpulas mais majestosas e soberbas, vem agora solenemente proclamar a inocência de Ferrer!
Já a um particular é bem penoso o reconhecimento de um erro: mas as instituições, as "justiças", essas sentem em regra uma ainda mais invencível repugnância em bater no peito um humilde e compungido mea culpa, porque essa confissão lhes vem empanar o brilho prestigioso e autoritário.
Esse caso raro deu-se todavia em favor da memória de um fuzilado... Não que fosse desonra bater-se nas ruas entre o povo, sangrado e oprimido; mas porque infâmia e desonra foi, para os algozes, assassiná-lo vilmente por idéias sob o pretexto inventado de beligerância.
O Supremo Tribunal de Madri acaba de ordenar a restituição dos bens da Escola Moderna aos seus herdeiros, reconhecendo que:
1º - Ferrer em nada interveio nos fatos de Barcelona;
2º - Nenhuma das pessoas processadas estava ás suas ordens;
3º - Em nenhum dos 2.000 processos causados pelos acontecimentos se acharam vestígios da participação ou da instigação de Ferrer.
E os conventos perdem a ação de reivindicação que tinham intentado - o que torna mais significativa a vitória da verdade.
Invade-nos ainda hoje uma onda de cólera, rememorando, depois disto, aquela dolorosa vergonha histórica! Vergonha inextinguível e mortal para a maldita reação clerical e militarista! Vergonha para os interessados, para os fanáticos e para os cretinos que aplaudiram o crime hediondo! "Vergonha e remorso para os ingênuos e retardatários que acreditam na honra e justiça dos algozes! 
As instituições... essas não se corrigem, essas costumam morrer impenitentes. E são cheias de verdade estas palavras, com que o jornal meu informador fecha a sua notícia:
"Há só uma coisa que o tribunal supremo se vê impossibilitado de fazer: é restituir a vida ao fuzilado de Montjuich. É na verdade cômodo dizer para os governantes enviarem poste de execução os que comandam e depois consumam o crime, virem dizer que foram vítimas de um erro social. Por isso, façam o que fizerem para nós, Afonso XIII há-de ser sempre o assassino de Ferrer. O rei - e tudo o que ele representa de retrocesso e de infâmia.



Neno Vasco


(1910)

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