As
eleições gerais se aproximam, agora para prefeitos das cidades e seus
respectivos vereadores. É assim um bom tempo para se fazer uma reflexão sobre a
política republicana usual. É um conhecido dito o qual, contudo, é importante
se dizer de novo, aquele que afirma que a data cronológica das eleições é o
único momento na história da sociedade política que periodicamente o indivíduo
mantém relação direta com o poder no modo da autonomia e da atitude decisória:
somente ali e só ali o povo é soberano, embora de forma fugaz e instantânea,
mesmo segundo uma pacífica e regular periodicidade, mergulhando depois para
cerca de quatro anos de total e absoluta heteronomia mesmo no contexto das
chamadas democracias modernas.
Por
conseguinte, a questão do sufrágio eleitoral está envolvida em um equívoco fundamental e constituinte, problematizada
de modo profundo. A
pergunta
que historicamente o Anarquismo como
teoria e prática faz para si é aquela que interroga: deve-se chamar o
voto nulo e rejeitar abertamente o sistema político universalmente em vigor ou
integrar o processo eleitoral para não se excluir da realidade histórica do
poder e assim evitar o retrocesso que uma omissão declaradamente paradigmática
acarretaria?
Essas
duas atitudes marcaram contextos históricos intensamente dramáticos, como por
exemplo na Revolução Espanhola(1936-1939). Assumindo a primeira alternativa, o
Anarquismo hispânico(AIT-CNT-FAI)
fez
jus à sua coerência lavrada na autenticidade da luta exclusivamente social, com
base na negação aberta da política usual que faz o jogo vicioso do poder.
Contudo, essa atitude levaria a perder um espaço político vital cuja
abrangência determinaria uma possibilidade de atuar objetivamente nos destinos
sociais internos e locais à nacionalidade espanhola em questão. Levando
em conta a segunda opção, o chamamento para uma participação aberta e livre na
prática política sufragista violentaria um dos mais importantes axiomas
apolíticos do movimento libertário, o do voto nulo na sua universalidade o
qual, junto com a ação direta, a greve geral e a auto-gestão determinam os
pontos vitais da postura de luta histórica e social do Anarquismo. Esse
confronto ideológico na base da mentalidade (a-)política libertária parece se
dar de um modo decisivo e ocorre contextualizado nas mais profundas raízes da
postura anarquista, no embate essencialmente social. A problemática da questão
do voto nos sufrágios gerais ainda sinaliza uma última questão radical e
historicamente inadiável, a saber, aquela que constata que o voto nulo agiria
de tal forma que não impediria que a direita chauvinista ou a esquerda
totalitária alcançasse o poder republicano, onde o voto político libertário
poderia fazer a diferença: o voto nulo segue acarretando então intensas discussões
e sérias dissensões.
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