A Auto-Gestão
Em oposição ao poder delegado
historicamente exercido pelas classes dominantes em seus respectivos regimes
políticos, os anarquistas propõem o regime social da produção de natureza
auto-gestionária, no qual o Estado e a classe dominante no poder sejam
substituídos pelo coletivo dos trabalhadores os quais já estariam libertos da
estrutura política estatal em sua opressiva verticalidade e do jugo
economicamente absoluto dos patrões. Assim, a cooperação e o apoio mútuo substituirão
quaisquer dominação de classe: o caminho para a liberdade é a própria
liberdade.
A Ação Direta
Os anarquistas por definição e
escolha teórica e prática não fazem política, ao contrário, procuram substituir
a política tradicional com sua perpétua delegação de poder e sua viciosa
demagogia por uma organização ácrata na qual o povo se articularia de forma
apolítica e de modo imanentemente social, na forma universal do trabalho, não
mais como trabalhadores alienados e expropriados mas na condição corporativa de
produtores conscientes. Não mais poder ao Estado e aos patrões que
historicamente os exploram e usurpam sua liberdade, dignidade, produção e a sua
própria vida. A ação direta consiste nas atitudes objetivas historicamente
cotidianas realizadas pelos trabalhadores no seu esforço de se emancipar do
jugo político e econômico realizados por governantes e pela burguesia.
O Voto Nulo
Para os anarquistas, a desgraça
vivencial da classe trabalhadora tem raízes no poder político cuja execução
nefanda é proveniente da estrutura do Estado. Este legaliza e perpetua a
dominação de classe contextualizada pela classe patronal. Não basta substituir
o poder de uma classe pelo de uma outra, é mister que se despoje todo e
qualquer poder de classe existente no contexto social. Para que tal se dê, o
poder de Estado deve ser finalmente excluído. Para que isso ocorra, não se deve
praticar eleições para a totalidade dos cargos políticos das instâncias
administrativas, legais e jurídicas do governo(historicamente, os três poderes
preconizados por Montesquieu). Finalmente, isso só se dará se a esmagadora
maioria dos votos forem nulos. Os trabalhadores devem rejeitar em bloco o
regime sufragista universal, anular totalmente o processo eleitoral é o início
para uma sociedade definitivamente livre e emancipada para os trabalhadores.
A Greve Geral
Uma outra característica fundamental
da prática apolítica libertária é a greve geral. Não uma simples paralização
com interesses salariais completamente inserida no marco do capital e da
realidade política tradicional vigente. Ao contrário, a consecução de uma greve
geral que redimiria a classe operária do jugo do Estado e do capital. Em vez de
sindicatos estatais plenos de peleguismo e viciosas associações com a burguesia
mas uma poderosa organização de trabalhadores que transcenderia as fronteiras
locais ou nacionais, capaz de, com uma greve mundial, forçar, por exemplo, o
término de uma guerra entre duas nações. O sistema capitalista finalmente
quebraria por completo em uma greve universal de menos de uma semana de
duração: trabalhadores de todos os países, uní-vos!
Autonomia
Associada à categoria da
auto-gestão, a autonomia pode ser considerada praticamente um princípio geral
desta. Se opõe diretamente à condição da heteronomia, ou seja, o fato de ser
determinado por algum fator alienígena ou transcendente. O Anarquismo histórico
se opõe aberta e diametralmente ao governo político e estamental dos homems
sobre outros homens. Jean Jacques Rousseau afirmava que os cidadãos da cidade
política não poderiam permanecer permanentemente reunidos em assembléia pois
necessitam prover o sustento material da sociedade(a chamada “particularização
da necessidade” indicada por Hegel). Assim, teriam forçosamente que delegar
poderes a possíveis representantes políticos(para o mesmo Rousseau, os
“comissários do povo”, termo tomado emprestado por Lênin). Contudo, os
anarquistas afirmam ser capazes de propor e construir dispositivos
administrativos possíveis para prover a vida social humana destituídos da
necessidade de poder centralizado, unitário e politicamente transcendental. Os
lemas “não deixe nunca que te governem” ou “nas eleições, os políticos ganham e
só tu que perde” ou, ainda “não deixemos nos deixar dragar pelos politiqueiros
e sua demagogia” indicam uma vontade firme na proposta de ser possível a
participação ativa na forma da autonomia, em assembléias, locais, paroquiais ou
cantonais as quais se federalizariam em níveis mais e mais abrangentes, plenas
de espírito cooperativo e de apoio mútuo, em representação direta universal.
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